Olá meus caros leitores!
Estou trazendo um artigo um pouco diferente dos corriqueiros que tenho costume de fazer. Tenho “TDAH” desde criança, e na minha época (década de 80), não tinham muitos especialistas nesse transtorno... no qual só vim a saber na minha adolescência que sofria disso... mas alias vocês sabem o que é TDAH?
O que é o TDAH?
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, que aparece na infância e acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Os seus sintomas são de desatenção, inquietude e impulsividade. O TDAH – Déficit de Atenção é considerado um transtorno de “base orgânica” e por serem estes problemas tão prejudiciais, recebem a classificação de “Transtorno”.
Ele é o transtorno mais comum em crianças e adolescentes, ele ocorre em 3 a 5% das crianças, em várias regiões diferentes do mundo em que já foi pesquisado. Em mais da metade dos casos o transtorno acompanha o indivíduo na vida adulta, embora os sintomas de inquietude sejam mais brandos.
"Me lembro quando era criança, minhas professoras sempre mandavam cartinha no caderno para a minha mãe: - Senhora mãe, seu filho de vez prestar atenção na aula, fica desenhando ou prestando atenção do lado de fora da janela. Eu morria de vergonha, mas tentava me controlar para ter mais atenção, porem parecia impossível prestar atenção na aula."
Segundo alguns pesquisadores, as áreas que controlam os movimentos amadurecem mais cedo. Tal resultado poderia explicar porque as crianças hiperativas são capazes de andar, correr, escalar, sair do berço ou até mesmo falar muito mais cedo que outras crianças. Por outro lado, áreas do córtex frontal, que permitem prestar atenção, regular o comportamento (autocontrole) amadureceriam com cerca de três anos de atraso. Como consequência, as crianças podem mostrar déficit de atenção e a agitação excessiva, que é a hiperatividade.
"Minha mãe tinha que ir todo dia na escola me buscar, não pela escola ser longe, ja que era so atravessar a rua, mas por que eu era bem agitado. As vezes por não prestar atenção na aula, quando a professora perguntava algo relacionado ao estudo do dia, eu tirava sarro e fazia uma piadinha, como meus amigos davam risada a professora me colocava de castigo, e eu fugia correndo pela escola, mas na verdade como não sabia nada, gostava de ser o engraçado, mesmo sabendo que eu era o aluno mais atrasado nos estudos."
O cérebro de uma pessoa que tem TDAH não funciona da mesma maneira todo o tempo. Pelo contrário, ele adapta seu nível de ativação às atividades e demandas de cada momento. Como resultado, a maior ativação acontece sempre que é preciso prestar atenção ou manter o foco. Igualmente, quando precisamos trabalhar em ambientes barulhentos e cheios de distrações ou então em atividades chatas, cansativas e pouco estimulantes. Para manter a atenção concentrada, o cérebro se torna mais ativo, desta forma, ocorre o bloqueio das distrações e a ativação necessária, por exemplo, para a elaboração das ideias ao estudar ou resolução de um problema.
"Quando repeti o 3° ano do primário, cai numa sala de uma professora chamada Maria do Carmo, ela teve paciência e me ajudou a lidar com meu Transtorno (porem so fiquei sabendo que tinha TDAH com quase 18 anos de idade), assim aprendi a me adaptar fazendo varias coisas ao mesmo tempo, e focando na matéria que mais me chamava atenção: MATEMÁTICA. "
Por esta razão, pessoas com o déficit de atenção tem dificuldade em focar nas “coisas chatas”. Por outro lado, para elas é fácil entrar em “hiperfoco” quando “tem interesse”. Essas pessoas adoram trabalhar sob pressão dos prazos, pois se concentram mais facilmente. A pressão dos prazos, o medo do fracasso ativa os centros primitivos, ajudando a manter a atenção mesmo nas atividades que num momento anterior era simplesmente deixada de lado.
"Um emprego que me ajudou muito a lidar com meu transtorno, foi em uma corretora financeira na bolsa de valores. Ficar naquela agitação de compra e vende, no leilão de derivativos, me ajudou muito a me entender melhor, a me concentrar em algo de tal forma que parece que eu me desligo do mundo e só foco no que me interessa."
Quem sofre com TDAH – Déficit de Atenção presta sim atenção, desde que ela seja capturada por alguma fonte de estimulação se deu interesse. Ao mesmo tempo, terá bastante dificuldade em exercer controle voluntário sobre o foco, especialmente diante de estímulos mais fortes e poderosos. E, naturalmente, os mais poderosos terão sempre vantagem…
Então, quais estímulos são mais poderosos? Aqueles mais prazerosos, que atingem as áreas mais primitivas do cérebro, ligadas a experiências de prazer ou medo. Por isto é tão difícil se manter em tarefas chatas… Para ninguém é fácil, mas no TDAH pode ser demasiado difícil… quase impossível!
"Na época de faculdade, adorava fazer apresentação, sempre fui agitado assim quando tinha que fazer apresentação ou dar palestra, eu era o primeiro a me oferecer, por isso sempre meus amigos me colocavam como orador do grupo. Mas o que eu não gostava, era fazer o manuscrito... sempre achei muito parado... mas quem diria que no futuro eu teria um blog e seria um dos principais redatores..."
Por outro lado, quando a situação é prazerosa, estimulante ou, por alguma razão, os mecanismos de HIPERFOCO são acionados. Por isto, quem tem déficit de atenção tantas vezes oscila entre distração e HIPERFOCO.
Três tipos principais de TDAH
Os sintomas são agrupados em dois grandes blocos: Distração e Hiperatividade / Impulsividade, que posteriormente resultam em 3 tipos de combinações.
1- Tipo Desatento
- Desatenção;
- Pouca atenção a detalhes, cometer erros por descuido;
- Dificuldade de manter a atenção em tarefas;
- Não ouve quando chamam ou falam diretamente, pode parecer egoísta ou desinteressado;
- Dificuldade em seguir instruções ou fazer atividades até o final;
- Dificuldade para organizar coisas, tarefas e atividades. Se perde no tempo;
- Evitar, postergar ou recusar atividades que exijam esforço mental prolongado;
- Perder objetos, mesmo os mais importantes;
- Facilidade em se distrair, seja com qualquer estímulo externo ou com seus próprios devaneios;
Esquecimentos, mesmo de atividades que realiza com frequência. Pode também esquecer o que estava falando, no meio da frase.
2- Tipo Hiperativo – Impulsivo
- Apresenta predominantemente estes sintomas de Hiperatividade/Impulsividade;
- Agitação constante;
- Dificuldade em ficar tranquilo: frequentemente se remexendo, batucando, contorcendo;
- Dificuldade em ficar sentado ou parado em situações em que isto é esperado (sala de aula, reuniões, igreja);
- Excesso de movimentação física: correr, escalar (quando crianças) ou agitação interna e inquietude quando é preciso ficar parado (quando adultos);
- Dificuldade com atividades mais calmas (paradas), até mesmo brincadeiras ou lazer;
- Dificuldade em esperar sua vez em brincadeiras (quando crianças) ou filas (por exemplo em adultos);
- Falar em excesso;
- Interromper as pessoas antes que elas terminem de falar;
- Agir de forma intrometida ou invasiva com as pessoas, por impulsividade;
3- O Combinado
- Tendência a compulsões e excessos (jogo, álcool, drogas, internet, sexo);
- Baixa tolerância a frustrações;
- Temperamento explosivo;
- Dificuldade em se expressar (a fala não acompanha a velocidade do pensamento);
- Busca constante por estimulação, sente tédio constante;
- Querer fazer tudo ao mesmo tempo;
- Mudar constantemente de planos;
- 3- Tipo Combinada
- É a combinação de desatenção e hiperatividade-impulsividade.
Como sei que tenho ou meu filho(a) tem TDAH?
O diagnóstico do TDAH é essencialmente clínico, baseado na análise dos sintomas por um especialista. A partir de sua experiência, irá concluir se o caso é realmente déficit de atenção. Se há ou não hiperatividade e impulsividade. Se não, qual poderiam ser as causas do problema do paciente, inclusive se uma ou mais simultaneamente.
Como esta análise precisa ser aprofundada e depende de conversas e observação, no caso de crianças é preciso a participação dos pais, professores e eventualmente outros adultos que possam trazer as informações relevantes.
Os sintomas precisam ter aparecido desde a infância, alguns casos são leves, moderados e graves. Uma vez que o TDAH é um transtorno de base orgânica, trata-se de algo presente desde o início da vida, não um problema que aparece apenas futuramente, apenas em situações específicas.
Em casos leves, os sintomas estão presentes, porém os prejuízos são pequenos, sem afetar significativamente a vida da pessoa, seja no trabalho, escola ou relacionamentos. Por outro lado, quando os sintomas são muito frequentes, muito intensos e causam muitos prejuízos, o caso é considerado grave. Níveis moderados de intensidade ficam entre estes dois.
Levar em conta a gravidade dos sintomas é um aspecto essencial, pois terá influência sobre os tratamentos a serem recomendados. Casos mais leves, especialmente em crianças, respondem bem a ajustes mais simples no estilo de vida e suporte escolar. Contudo, casos mais graves podem necessitar intervenções mais intensivas, como tratamentos multimodais com terapias comportamentais, uso de medicação e outras ações para mudança de estilo de vida.
Uma pessoa com TDAH tem conflito pessoal?.
Pessoas com TDAH tem grandes conflitos sobre inteligência. Por um lado, sentem que são muito criativas, até em grau maior que outros em geral. Pessoas com potencial elevado e capacidade para grandes realizações. Por outro lado, tem dúvidas sobre sua real capacidade, se acham uma “farsa”. Eventualmente, podem até se achar “burras”, pelos erros tolos por distração e por não conseguirem fazer tudo aquilo que, racionalmente, sabem que conseguiriam alcançar.
"Sem saber o que eu tinha, quando criança, me culpava por ser lento na escola, por não conseguir me concentrar em estudar, e por causa disso me achava uma criança 'burra'. Por muitas vezes preferi ficar em casa jogando vídeo-game ou lendo HQ, do que brincando com meus amigos após as aulas, pois na minha imaginação, eles iriam ficar me 'zuando' por ser tão desatento na escola."
O déficit de atenção, em si, não tem nada a ver com inteligência formal. Não é sinônimo de dificuldade de aprendizagem nem de pouca capacidade, em nenhuma área. Também não indica que a pessoa tenha QI superior ou inferior.
Duas coisas, entretanto, são completamente verdadeiras:
Em primeiro lugar, pessoas com TDAH tem realmente maior dificuldade com execução, independentemente de suas capacidades. Neste caso, a comparação entre o que sentem poder realizar e o que conseguem de fato é muito discrepante, levando a duvidar da própria inteligência ou inclusive do caráter, quando se acham “preguiçosas”.
Em segundo lugar, é também fato que as pessoas com TDAH tem alguns processos mentais típicos, como “pensar fora da caixa”. Por isto, conseguem ser mais criativas e alcançar destaque em determinados contextos, no qual suas forças valem mais que as fragilidades.
"Uma coisa que sempre tive em mente, e quando pequeno achava que era meu 'poder mutante' é o dom de me ADAPTAR. Quando vejo algo, ou me ensinam, acabo aprendendo rápido e em seguida vejo o que pode ser melhorado ou uma forma mais fácil de executar..."
Por tudo isto, é extremamente importante o correto diagnóstico e tratamento. Pois o impacto sobre o desempenho e não alcançar os objetivos pode ser a consequência indesejada, que pode frustrar e até destruir a vida de pessoas tão talentosas.
Mas meu caro redator, TDAH tem cura? Existe prevenção?
Como o TDAH é um transtorno que tem sua base em alterações crônicas de funcionamento do cérebro, não se pode falar em cura nem em prevenção.
Contudo, é totalmente possível minimizar os fatores de risco. Gestantes devem evitar qualquer situação que represente risco para o feto, estrese na gestão e em termos de contato com substâncias tóxicas. Também seguir estritamente os procedimentos de cuidados pré-natais, para minimizar o impacto de qualquer intercorrência ou problema de saúde.
Neste sentido, o cérebro pode ser transformado, tendo seu funcionamento otimizado. Mas isso não quer dizer que a criança nascera sem TDAH, mas sim minimizando o déficit de atenção, ajudando a criança a focar. Por esta razão é tão importante buscar tratamentos que sejam integrativos e sustentados, buscando sempre mudanças de longo prazo.
Bom pessoal, como disse no começo desse artigo, o TDAH não é mais uma barreira na minha vida, pois aprendi a me adaptar, a me comportar e a lidar com esse transtorno... Então meus caros leitores, se desconfiam que seus filhos tenham TDAH, é importante que procurem um especialista para identificar se na verdade têm e o grau do transtorno. Espero que tenham gostado do artigo.
Até a próxima.
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REFERENCIAS:
https://tdah.org.br/sobre-tdah/o-que-e-tdah/
https://www.minhavida.com.br/saude/temas/tdah
https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/tdah-transtorno-do-deficit-de-atencao-com-hiperatividade/
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